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I Saw Something of Us in Empty


terça-feira, 29 de junho de 2010

The Issue # 3 - O Aparente(mente) Feliz


São 7 da manhã. Na linha de Cascais, como não existe tanta confusão e tanto trânsito, conseguimos desde cedo ouvir os passarinhos a cantar.
O João acorda sempre mal-disposto, e sempre preguiçoso, contra todas as vozes dentro da sua (in)consciência.
"É de loucos! Esta vida é pra loucos!" murmura baixinho.
Hoje, como todos os dias anteriores, o multibanco dita a sua vida. Incapacita-o de prosseguir uma série de luxos, de escolhas, de manias, no entanto, o João, vai pegar no seu carrinho e encher-lhe o depositozinho (só mais uma vez).
Vai e volta mais que uma vez a Lisboa, ao Meco, à estação..
Não come, mal consegue comprar um maço de tabaco, ou até mesmo um simbólico presente de aniversário a um grande amigo.
"Ando furioso!", pensa, mas prossegue com a sua vidinha.
De noite faz contas. Quantas horas vai dormir, quantas portagens tenho que pagar, calcular a puta do preço do estacionamento da cidade, e no meio de tumultos, parece esquecer-se sempre do preço da sua vida.
Esquece-se do valor da sua vida, de avaliar os pontos fortes e os pontos fracos da sua existência no seu bairro, na sua cidade, na sociedade e no mundo. Passa-lhe ao lado!
"Às vezes sinto tudo a trespassar-me pelos dedos, pelos ouvidos, pelos olhos. O quotidiano pesa-me todos os dias e um pressenti(minto) diz-me que está tudo bem, que permanecerá tudo bem!"
Encontra-se com alguém na rua, que virá mais tarde a encontrar num jantar de amigos com comum.
Conversa, empresta bocados de si, gargalhadas pelo meio, partilha sonhos e fantasias, mas jamais se entrega! jamais! E ainda por cima, contra a sua vontade de querer ser amado, de deixar que alguém testemunhe o complicado trilho da sua vida, tão rica e preciosa, que desconhece, que desvaloriza.
"Que perda de vida, que perda de tempo!" reconhece por fim.
E cego, contorna a vida, sem nunca entrar nela, ou deixar alguém guiá-lo até ela.
Ao fim dos dias, quando dorme (quando tenta adormecer) aparente(minto), sussurrando que fui, sou e serei feliz.....


(to be continued)

Catarina Távora

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