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I Saw Something of Us in Empty


segunda-feira, 12 de julho de 2010

The Issue # 10 - Jorge Barradas

Porque o Design Português (embora muitos não se aprecebam disso) já tem muita história. E para começar a descrever esse (maravilhoso) caminho percorrido por inúmeros artistas portugueses, o primeiro que me salta à cabeça é o inconfundível Jorge Barradas ou "Barradinhas".
Este pintor e ilustrador (1894-1971) ficou conhecido pelas capas da Revista ABC que revelam o feminino da modernidade desejado pelas mulheres da sua sociedade.
Mas as suas participações não ficaram por aqui, fazendo parte também de outras revistas como: Ilustração, Diário de Lisboa, Contemporânea, Ilustração Portuguesa, O Século Cómico, Atlântida, Magazine Bertrand, O Domingo Ilustrado, Acção, Papagaio Real, Sempre Fixe, entre muitas outras publicações.

As suas personagens predilectas são os tipos alfacinhas como, o mendigo, o bêbado, o novo-rico, o ardinas, as costureiras, etc.
Participou na conhecida exposição do Grupo dos Humoristas Portuguesas, extreando-se assim com 8 desenhos e apenas 17 anos. O seu objectivo era haver uma revolução gráfica inspirada nas publicações internacionais.
Há quem diga que, numa comparação com o grande mestre da caricatura portuguesa, acrescenta: “Se Rafael Bordalo é o artista combativo da Sociedade Portuguesa, irónico e sarcástico sem temor, Barradas é o comentador dos ridículos e o anotador flagrante das visíveis passagens da fauna que a compõe”. [Rafael Bordalo Pinheiro, outro grande artista a falar num próximo #The Issue]
Sem dúvida um grade artista a reter na nossa memória e a pesquisar mais sobre o seu vasto e delicioso trabalho.


Texto: BMonteiro
Imagem: Jorge Barradas por BMonteiro (ilustração vectorial)

sexta-feira, 2 de julho de 2010

The Issue # 9 - Bravo! Vive la France! Vive Poulain!

Amélie Poulain – a meu ver a imagem de moda na sua forma mais subtil, mais real, mais tocante e avassaladora. O filme “Le fabuleux destin d'Amélie Poulain”, de 2001, é um filme francês de Jean-Pierre Jeunet que marca qualquer pessoa que o possa ver e que não pode ficar indiferente à personagem Amélie desempenhada por Audrey Tautou, uma rapariga que em nova o pai, Raphael Poulain ex médico militar, lhe diagnosticou uma anomalia no coração por bater rápido demais durante os exames médicos lhe realizados. É então proibida de ir à escola, sendo alfabetizada pela mãe, Amandine Fouet professora primária, e sempre tratada como uma criança especial. Na verdade Amélie era realmente uma criança especial mas não sofria de nenhuma anomalia no coração, era simplesmente a aproximação do pai que a deixava com o coração acelerado, pois qualquer criança queria a atenção do pai e as únicas vezes que este lhe tocara era quando a examinava e por isso mesmo o seu coração disparava quando tal sucedia. Foi privada de ter uma infância normal, habituada a conviver com a solidão e com a morte prematura da sua mãe, Amélie encontra um refúgio no mundo que ela própria inventou, onde o disco de vinil é feito como as panquecas, onde a vizinha há meses em coma simplesmente resolveu dormir de uma vez só todo o sono da sua vida podendo assim ficar acordada dia e noite para o resto da sua vida, etc. O ambiente familiar de Amélie nunca foi normal, uma envolvência tão sufocante que até o seu peixe e melhor amigo, se tornou neurasténico e por isso tentava várias vezes se suicidar saltando para fora do aquário.


Tantos factores não podiam deixar de influenciar o crescimento de Amélie e reflectir-se no desenvolvimento e relacionamento com as pessoas e o mundo ao seu redor depois de adulta.

Saída de casa do pai nos subúrbios vai viver para um bairro parisiense de Montmartre onde consegue um trabalho como empregada de mesa num café chamado Deux Moulins. A beleza do filme consiste totalmente na felicidade genuína e ingénua de Amélie quando no seu apartamento encontra uma caixinha com brinquedos e recordações de um antigo morador e reúne todos os esforços para o devolver duma forma anónima. A felicidade na cara de Dominique, o antigo morador do apartamento, reinventa a visão de Amélie face ao mundo onde vive e decide transformar a sua vida numa “jornada de felicidade” a fim de tornar mais feliz as vidas das pessoas que a rodeiam. Temos o privilégio de poder assistir a algo que todos nós procuramos: a existência de um significado para a nossa vida, um objectivo genuíno, humilde, sem segundas intenções onde nos podemos aperceber que talvez a felicidade não resida só em nós mas sim naqueles que todos os dias tentamos que sejam felizes mesmo que seja com o nosso menor gesto.

As pequenas “manias” e caprichos de Amélie, substituem-lhe o namorado que uma vez ou duas terá tentado ter, como coleccionar pedras da rua nos seus bolsos enquanto passeia e depois fazer ricochete com elas na água do canal de Saint Martin, com uma colher partir e ouvir o som do açúcar caramelizado estalar por cima do leite creme, olhar para trás no cinema e ver as caras das pessoas no escuro, ver os detalhes que mais ninguém vê, enfiar a mão nas sacas do grão e sentir a sua textura e que na minha perspectiva fazem da personagem Amélie uma figura inesquecível e inconfundivel do cinema e provavelmente o papel marcante de Audrey Tautou.


De qualquer maneira o romance não podia deixar de existir quando Amélie se apaixona por um homem à primeira vista e consegue mudar o seu fabuloso destino. A magia da simplicidade de uma vida, que por mais fantasiada que nos possa parecer, remete-nos para a vida real, sem luxos e sem as típicas acções que nos parecem somente possíveis dentro do grande e pequeno ecrã.


No meu ponto de vista a interpretação de Audrey Tautou, a inigualável visão de Jean-Pierre Jeunet, a fotografia de Bruno Delbonnel (que foi nomeada para um Óscar na categoria de melhor fotografia entre outras como: melhor filme estrangeiro, melhor direcção de arte, melhor som e melhor roteiro original), a dramática banda sonora de Yann Tiersen (http://www.youtube.com/watch?v=qBZPa-kLLCE), fazem de “Le Fabuleux Destin d’Amélie Poulain” um filme para ser visto de que maneira for, uma película que faz parte das obrigatórias para os amantes do cinema.


O guarda roupa está nas mãos de Madeline Fontaine, seguindo a mesma linha estética de todo o filme, que retrata na perfeição a personalidade de Mademoiselle Poulain, com tons neutros onde até as famosas cores do filme: encarnado e verde, nas roupas de Amélie estão esmorecidas, saias compridas e camisas com padrões constituem no geral os seus coordenados.


Falo de um filme icónico que me fez suster a respiração várias vezes, sentir o coração apertado, arrepios no corpo, a pele eriçar e que ainda hoje é falado e visto como uma “master-piece”, onde a série actual Pushing Daises, que pode ser vista na Warner Channel no Brasil e na Fox Life em Portugal, se baseia no seu enredo.


Fazendo referência ao narrador do filme: “On September 3rd 1973, at 6:28pm and 32 seconds, a bluebottle fly capable of 14,670 wing beats a minute landed on Rue St Vincent, Montmartre. At the same moment, on a restaurant terrace nearby, the wind magically made two glasses dance unseen on a tablecloth. Meanwhile, in a 5th-floor flat, 28 Avenue Trudaine, Paris 9, returning from his best friend's funeral, Eugène Colère erased his name from his address book. At the same moment, a sperm with one X chromosome, belonging to Raphaël Poulain, made a dash for an egg in his wife Amandine. Nine months later, Amélie Poulain was born.”



AMÉLIE POULAIN WAS BORN!














Texto: MSalvador

quinta-feira, 1 de julho de 2010

The Issue # 8 - Os Gémeos

Quatro palavras: fa-bu-lo-so. Quem ainda não viu a exposição "Para quem mora lá, o céu é lá" d'Os Gemeos´, é melhor começar a correr até ao CCB.
Os brasileiros Otávio e Gustavo Pandolfo (nascidos em 1974), para além de partilharem uma semelhança fisica, partilham também o gosto pela arte do graffitti (e fazem muito bem!). Formaram-se em Desenho de Comunicação pela Escola Técnica Estadual Carlos da Campos e desde 1987 que espalham retratos de família e crítica social e política nas paredes do mundo através de latas de tinta em spray.
Os trabalhos da dupla estão presentes em diferentes cidades dos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Grécia, Cuba (entre outros) e recentemente em Portugal no Museu Berardo.


Mas estes não se ficam só pelas latas. Alargaram os seus horizontes e exploram vários materias, misturam-nos e assim as suas exposições incluem novos suportes como esculturas e até mesmo automóveis.
Em particular, na exposição "Para quem mora lá, o céu é lá", pode-se verificar alguns exemplos disso.
Numa primeira vista dá-nos a sensação de surrealidade, um mundo à parte cheio de formas e cores berrantes, como se fosse um refúgio. Neste mundo não existe dia, nem noite, existem as cores que o ilumina, principalmente a cor amarela que fazem questão de vincar em todas as suas obras, quase como se fosse a sua imagem de marca, um pormenor muito própio d'Os Gemeos.
Na sua pintura mural retratam o que chamamos de concret jungle, onde se reúnem características do hip-hop, do graffitti, rap e todo um leque de o que se chama a cultura urbana.
Todos os seus trabalhos têm uma mensagem social, um sentimento por detrás de cada olhar que pintam, um aviso para tornar este mundo com mais cor e harmonia esquecendo as diferenças raciais e sociais do que chamamos "a nossa contemporaneidade".

Para ficar a conhecer melhor esta dupla maravilha:








Texto e Imagem: BMonteiro

The Issue # 7 - Tina Modotti in Vienna

Assunta Adelaide Luigia Modotti Mondini, apelidada de Tina Modotti, nasceu em Udine, Itália, em 1896 e morreu na Cidade do México em 1942, mas não antes de se tornar um mito.
É simplesmente uma das mulheres mais fascinantes do século XX.
A arte de Modotti, gira muito em torno dos retratos das pessoas, do estudos sobre plantas, e situações que revelam momentos revolucionários dos anos 20.
Teve um infância atribulada de dificuldades financeiras, com um pai ausentado na Aústria em busca de uma trabalho melhor, embora Tina ficara em Itália com os seus quatro irmãos, a ajudar a mãe a trabalhar. Largou a escola por um período de tempo, enquanto ganhava uns tostões em trabalhos de costureira.
Entre irmãos, todos julgavam Tina a com o rosto mais triste, embora a irmã com mais garra, que jamais reclamava por falta de comida ou frio. Um rosto triste e marcado, pelos trilhos de uma vida nómada e emigrada, embora sempre rodeada de família.
"Tina Modetti - Fotógrafa e Revolucionária" é o nome da exposição que a WienKunstHaus (Casa das Artes de Viena) tem o orgulho de trazer junto do público a partir do dia de hoje, até ao dia 7 de Novembro de 2010.
Para todos os que amam fotografia e que pretendam percorrer a Europa neste próximo verão, façam o favor de não perder esta exposição.
Também para os que mal conhecem os revolucionários anos vinte, para os que se interessam por retratos de Frida Kahlo e Diego Rivera, pelas revoluções mexicanas, por fotografias que percorrem o mundo (Califórnia, México, Berlim, Moscovo, Paris e Espanha), a exposição pode vos trazer de volta aos anos em que a vida era simples, árdua e humilde, onde a fotografia a preto e branco de Modotti foi testemunha de uma época histórica.

Texto: Catarina Távora
Imagem: Tina Modotti